sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Manuel Bandeira e Petrópolis


Inexoráveis que são, a importância e influência de Manuel Bandeira (Recife,1886- Rio de Janeiro,1968) na literatura brasileira  gerou,quer na poesia quer na prosa , até mesmo um denominado  "ritmo bandeiriano", não apenas pelas forma e estilo de sua escrita --- simples e direto, mas lírico e sensorial --  também pela  temática –  de timbre universal, mas com foco no cotidiano. .
Em Bandeira, poemas (como “Poética”, parte da obra Libertinagem)  se constituem verdadeiros   manifestos da poesia moderna  --  incorporada e expressada ,em 1922, com o célebre poema  “Os sapos.”,  lido na  Semana de Arte Moderna de 1922, sem nela comparecer porém,e mais substancialmente  no livro Poesias,1924. Paralelamente, sua poética conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época,uma espécie de ‘hesitação’ entre o júbilo e a dor ,entre  alegria e saudades, entre prazer e melancolia, em  diversas dimensões figurativas, permeadas de  expressões de sentimento e evocações do imaginário – assim é, por exemplo, no célebre "Vou-me  embora pra Pasárgada",

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

-- .bem como uma  nostálgica rememoração  da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. – caso explícito de sua  explicitamente amorosa relação com Petrópolis (onde passou  dois verões),
     “Sou natural do Recife, mas na verdade nasci para a vida consciente foi em Petrópolis , pois de Petrópolis datam as minhas mais velhas reminiscências. Procurei fixá-las no poema Infância:
                Corrida de ciclistas
                 só me lembro de um bambual
                debruçado no rio.
                Três anos?
                Foi em Petrópolis."

e em

Noite morta
             Petrópolis, 1921

Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.

Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.

Os que ainda vivem e os que já morreram.

O córrego chora.
A voz da noite ...
(Não desta noite, mas de outra maior)

Sua vasta  e eclética obra comporta composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma  proporção em que se encontram trovas e  o rondó.
poesia: A cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Poesias (1924);Libertinagem (1930);Estrela da manhã (1936);Poesias escolhidas (1937); Poemas traduzidos(1945); Opus 10 (1952);Cinquenta poemas escolhidos pelo Autor (1955); Poesia e prosa completa (1958); Alumbramentos (1960; Estrela da  tarde (1960); Estrela a vida inteira (1966);prosa:  Crônicas da Província do Brasil(1936); Guia de Ouro Preto(1938);Noções de história das literaturas(1940); Autoria das Cartas Chilenas(1940);  Apresentação da poesia brasileira (1946);  Literatura hispano-americana (1949);  Gonçalves Dias, biografia (1952);  Itinerário de Pasárgada(1954);  De poetas e de poesia (1954);  A flauta de papel (1957);  Prosa (1958);  Andorinha, andorinha (1966);  Colóquio unilateralmente sentimental (1968)


Nenhum comentário:

Postar um comentário