Inexoráveis que são, a importância e influência
de Manuel Bandeira (Recife,1886- Rio de Janeiro,1968) na literatura
brasileira gerou,quer na poesia quer na
prosa , até mesmo um denominado
"ritmo bandeiriano", não apenas pelas forma e estilo de sua
escrita --- simples e direto, mas lírico e sensorial -- também pela
temática – de timbre universal,
mas com foco no cotidiano. .
Em Bandeira, poemas (como “Poética”,
parte da obra Libertinagem) se
constituem verdadeiros manifestos da
poesia moderna -- incorporada e expressada ,em 1922, com o
célebre poema “Os sapos.”, lido na
Semana de Arte Moderna de 1922, sem nela comparecer porém,e mais
substancialmente no livro Poesias,1924. Paralelamente, sua poética
conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de
sua época,uma espécie de ‘hesitação’ entre o júbilo e a dor ,entre alegria e saudades, entre prazer e
melancolia, em diversas dimensões
figurativas, permeadas de expressões de
sentimento e evocações do imaginário – assim é, por exemplo, no célebre
"Vou-me embora pra Pasárgada",
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
-- .bem como uma nostálgica rememoração da infância, da vida de rua, do mundo
cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. – caso
explícito de sua explicitamente amorosa
relação com Petrópolis (onde passou dois
verões),
“Sou
natural do Recife, mas na verdade nasci para a vida consciente foi em
Petrópolis , pois de Petrópolis datam as minhas mais velhas reminiscências.
Procurei fixá-las no poema Infância:
Corrida de ciclistas
só me lembro de um bambual
debruçado no rio.
Três anos?
Foi em Petrópolis."
e
em
Noite morta
Petrópolis,
1921
Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.
O córrego chora.
A voz da noite ...
(Não desta noite, mas de outra maior)
Sua vasta
e eclética obra comporta composições poéticas rígidas, sonetos em rimas
ricas e métrica perfeita, na mesma
proporção em que se encontram trovas e
o rondó.
poesia: A
cinza das horas (1917); Carnaval (1919);
Poesias (1924);Libertinagem (1930);Estrela
da manhã (1936);Poesias escolhidas
(1937); Poemas traduzidos(1945); Opus 10 (1952);Cinquenta poemas escolhidos pelo Autor (1955); Poesia e prosa completa (1958); Alumbramentos
(1960; Estrela da tarde (1960); Estrela a vida inteira (1966);prosa: Crônicas
da Província do Brasil(1936); Guia de
Ouro Preto(1938);Noções de história
das literaturas(1940); Autoria das
Cartas Chilenas(1940); Apresentação da poesia brasileira (1946);
Literatura
hispano-americana (1949); Gonçalves Dias, biografia (1952); Itinerário
de Pasárgada(1954); De poetas e de poesia (1954); A flauta
de papel (1957); Prosa (1958); Andorinha,
andorinha (1966); Colóquio unilateralmente sentimental
(1968)
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