Foi em sua residência petropolitana, no anexo da casa do Barão de Mauá, que o
poeta Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, 1913 -- Rio de Janeiro, 1980) junto
com compositor Carlos Lira, compôs a
comédia musical "Pobre Menina
Rica" -- escrita em 1963, conta
a história do “forte amor” entre o
Mendigo Poeta e a Pobre Menina Rica, retratando os dois lados da sociedade
carioca dos anos 1960, com todo o seu glamour e suas contradições sociais.
O “poetinha”, como era (até
internacionalmente) conhecido passou parte de sua vida em Petrópolis, onde por
exemplo ,neste mesmo ano de criação da peça, compôs
Medo de amar
O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
Ai que medo de
amar!
O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
Ai que medo de
amar!
Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!
Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
Ai que medo de
amar!
E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
Ai que medo de
amar!
(Petrópolis, 02.1963)
de resto, poema absolutamente
condizente com a ´temática inerente a toda a obra de Vinicius – de múltiplos talentos :
diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor .Vindo de um misticismo
de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensorial e sensual que depois
se muda em versos marcados por um profundo sentimento social, a obra de
Vinicius tem como constante um lirismo de sentimento e leveza mas simultaneamente de grande força e
densidade, sob um timbre de modernidade
peculiar no panorama literário brasileiro.
Essencialmente lírico, notabilizado pelo
sonetos que falam sobretudo a linguagem
do amor, Vinicius de Moraes produziu em
verso e em prosa um rico acervo de obras
,em 65 anos de criação artística de alta qualidade : O caminho para a distância
(1933) ; Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936) ; Novos poemas (1938) ; Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946); Pátria minha (1949); Antologia poética (1954); Livro de sonetos (1957); Novos
poemas- II (1959) ; Para viver um
grande amor --crônicas e poemas (1962) ; O encontro do cotidiano
(1968); A Arca de Noé; poemas infantis (1970); Poesia completa e Prosa (1998)
Nenhum comentário:
Postar um comentário