sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Vinicius de Moraes e Petrópolis


Foi em sua residência petropolitana,  no anexo da casa do Barão de Mauá, que o poeta Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, 1913 -- Rio de Janeiro, 1980) junto com  compositor Carlos Lira, compôs a comédia musical  "Pobre Menina Rica" --  escrita em 1963, conta a  história do “forte amor” entre o Mendigo Poeta e a Pobre Menina Rica, retratando os dois lados da sociedade carioca dos anos 1960, com todo o seu glamour e suas contradições sociais.
O “poetinha”, como era (até internacionalmente) conhecido passou parte de sua vida em Petrópolis, onde por exemplo ,neste mesmo ano de criação da peça, compôs 

Medo de amar

O céu está parado, não conta nenhum segredo
A estrada está parada, não leva a nenhum lugar
A areia do tempo escorre de entre meus dedos
        Ai que medo de amar!

O sol põe em relevo todas as coisas que não pensam
Entre elas e eu, que imenso abismo secular...
As pessoas passam, não ouvem os gritos do meu silêncio
        Ai que medo de amar!

Uma mulher me olha, em seu olhar há tanto enlevo
Tanta promessa de amor, tanto carinho para dar
Eu me ponho a soluçar por dentro, meu rosto está seco
Ai que medo de amar!

Dão-me uma rosa, aspiro fundo em seu recesso
E parto a cantar canções, sou um patético jogral
Mas viver me dói tanto! e eu hesito, estremeço...
        Ai que medo de amar!

E assim me encontro: entro em crepúsculo, entardeço
Sou como a última sombra se estendendo sobre o mar
Ah, amor, meu tormento!... como por ti padeço...
        Ai que medo de amar!
                                   (Petrópolis, 02.1963)

de resto, poema  absolutamente  condizente com a ´temática inerente a toda a obra  de Vinicius – de múltiplos talentos : diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor .Vindo de um misticismo de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensorial e sensual que depois se muda em versos marcados por um profundo sentimento social, a obra de Vinicius tem como constante um lirismo de sentimento e leveza  mas simultaneamente de grande força e densidade, sob um timbre de modernidade  peculiar no panorama literário brasileiro.
Essencialmente lírico, notabilizado pelo sonetos  que falam sobretudo a linguagem do amor, Vinicius de Moraes produziu  em verso e em prosa um rico acervo de  obras ,em 65 anos de criação artística de alta qualidade :  O caminho para a distância (1933) ; Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936) ; Novos poemas (1938) ; Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946); Pátria minha (1949); Antologia poética (1954); Livro de sonetos (1957);  Novos poemas- II (1959) ; Para viver um grande amor --crônicas e poemas (1962) ;  O encontro do cotidiano (1968);  A Arca de Noé; poemas infantis (1970);  Poesia completa e Prosa (1998)





































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